Nascida e criada na zona rural de Croatá, desde muito cedo Claudenice Elias Ferreira Silva de Carvalho, 34, sonhava com o mundo da beleza. “Quando eu tinha de 9 pra 10 anos, juntava vidros secos de shampoo no lixo do fazendeiro que tinha do lado da minha casa, montava uma bancada em cima dos tijolos e me sentia a cabeleireira mais top do universo”. Era como se Nice já previsse seu futuro empreendendo no segmento que seria sua fonte de renda muitos anos depois. E sem nem mesmo saber, já gestava dentro de si o Caipiras Fashion: um salão de beleza do sertão.

Para ajudar na renda de casa, Nice catou castanha com o pai, trabalhou como babá, doméstica e muitas outras profissões, mas sem nunca deixar para trás a ideia de um dia ter seu próprio negócio: “o empreendedorismo, eu acho, que já nasceu em mim. Eu sempre amei vender, sempre gostei de negociar”, lembra.

Aos 18, veio morar em Fortaleza. Foi quando cruzou no seu caminho, a primeira oportunidade de trabalhar no segmento que já lhe brilhava os olhos quando criança. “Aos 20 anos eu comecei a trabalhar em uma marca de cosmético, representando nos salões de beleza. Eu era apenas a auxiliar das profissionais cabeleireiras”. Em 1 ano, Nice entendeu que já seria capaz de atender suas próprias clientes: “comprei 2 chapinhas, 1 secador, 1 litro de inteligente e comecei a fazer minha clientela em domicílio”, lembra. E assim, a menininha da bancada improvisada lá de Croatá, agora dava lugar a Nice cabeleireira, que desenhava seus primeiros passos na sua jornada empreendedora.

Nice passou 8 anos atendendo em domicílio. Depois de uma temporada no Mato Grosso do Sul, voltou para Croatá decidida a ter seu próprio negócio: “Vendemos a nossa casa por R$20 mil, era uma casa pequena, e investimos tudo no salão. Compramos lavatórios incríveis, cadeiras maravilhosas, tudo à vista. Investimos uma grana boa na estrutura do ponto comercial que a gente tinha alugado”.

Só que empreender, vocês sabem, tem seus percalços. Com um ano trabalhando duro para levantar a clientela do salão, a dona do ponto comercial pediu o prédio de volta. “Foi quando a gente voltou pra fazenda, a gente teve que montar o salão na fazenda onde a gente morava. Então, uma estrutura mega incrível de um salão de beleza se tornou uma estrutura mega simples, com muita dificuldade, na fazenda”, relembra.

Teve o baque, claro, mas em meio à dificuldade Nice enxergou uma oportunidade: “Pelas minhas pesquisas, não tinha nenhum salão de beleza numa fazenda, que fosse na roça, e como eu sou filha de agricultor, somos caipiras, aí eu entendi – eu sou caipira, mas eu gosto do mundo da moda, do mundo fashion, então vai ser esse nome, em homenagem à minha família, e à minha história”. Nascia o Caipiras Fashion, o primeiro salão de beleza dentro de uma fazenda, no meio do sertão cearense. “Foi bem difícil voltar, mas eu entendi que tem momentos na vida que a gente tem que dar passos pra trás, pra gente criar impulso para ir pra frente”. E foi nisso que Nice mirou. Formalizou seu negócio, através do MEI, o que lhe rendeu um novo fôlego para dar continuidade ao negócio e apostar na ideia de expandir.

Clientela estabelecida, Nice pode voltar a ideia inicial de ter seu ponto comercial, mas mantendo o nome que carrega consigo o orgulho de onde veio e com os olhos atentos para onde vai. “Hoje, por mais que a gente esteja no interior, por mais que, pra muitos, ainda falte muita coisa, pra mim, a gente já expandiu o Caipiras Fashion bastante”.

E assim, a empreendedora entendeu, também, a importância de continuar investimento no conhecimento para ampliar as possibilidades de seu negócio. O salão, inclusive, conta com um produto de beleza exclusivo – o Silicon Milk, desenvolvido pela Nice com a experiência adquirida ao longo dos anos e de seu investimento em formação. Conhecimento que divide com outras empreendedoras através de cursos de formação, outra porta de entrada para garantir o caixa do Caipiras Fashion. “Quando eu vendo meu produto, eu vendo a minha história dentro dele”. Seus planos para o futuro, é que seu produto possa chegar aos quatro cantos do mundo.

Após 14 anos no ramo, Nice ensina que para tirar uma ideia de negócio do papel, o primeiro passo é ter coragem: “o medo, muita das vezes, ele te camufla. Camufla tuas ideias, camufla os teus sonhos”, reitera. Quando olha em retrospecto, Nice afirma que todo o esforço valeu a pena: “Hoje eu olho e digo assim: que orgulho de ti, caipira, que orgulho da mulher que você se tornou. Em meio a um lugar tão pequeno, uma cidade que, para muitas pessoas, é insignificante, você se tornou significante e você fez seu nome nessa cidade”, conta orgulhosa.

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