Posts

ESG: o que é e por que o pequeno negócio deve nascer ou crescer com essa ideia

Sinônimo de boas práticas ambientais, sociais e de governança tornou-se selo de qualidade para as empresas

16.09.21 - 09H42 Por camillalima
Ser reconhecido por cuidar do meio ambiente, promover impacto social positivo e adotar uma conduta corporativa ética(foto: Franziska & Tom Werner)

Em 2009, Juliano, especialista em Planejamento e Gestão Ambiental, resolveu criar uma empresa de serviço de coleta seletiva. A ideia era oferecer coleta seletiva particular na cidade. O negócio durou até 2014, tempo suficiente para Juliano perceber um gargalo no processo de reciclagem: existiam resíduos que não possuíam tecnologia capazes de reciclá-los. Quando a empresa de reciclagem completou seu ciclo, ele iniciou testes com diversos desses materiais para, a partir deles, desenvolver produtos sustentáveis, ou seja, ele queria criar um produto onde, na linha de produção dele, teria uma pegada de carbono reduzida e baixo impacto ambiental.

Um desses materiais foi a madeira: “Comecei a perceber que poderia fazer peças decorativas e até móveis. Então, junto com meu pai, comecei uma mini marcenaria na garagem de casa”. Juliano pegava a madeira que seria descartada e dava empregava outro destino. As peças foram ganhando corpo e vida. “Eu não precisava comprar madeira pra fazê-las. E a brincadeira foi ficando séria, a família foi comprando, criei o Instagram da marca e comecei a vender”. Surgia a Woodretrofit.

Na mesma pegada, em 2016, Juliano criou a Green Bag Brasil, marca que desenvolve ecobags a partir de outro material sem descarte adequado: a lona de caminhão. O produto é todo feito com materiais reutilizados: a bolsa é de lona, as alças são feitas com cinto de carro e até as etiquetas com a marca são sustentáveis, feitas de vinil. “Esses três materiais não possuem, até hoje, tecnologia no mundo para reciclá-los. São materiais que duram muitos anos para se decompor. E aí eu consigo produzir uma mochila, uma bolsa, um acessório, resistente, impermeável e de baixo impacto ambiental na produção”, explica.

Hoje a marca desenvolve três linhas diferentes de produtos: os feitos de lona de caminhão, outros confeccionados a partir das velas de Kitesurf (que demoram até 100 anos para se decompor e não têm o descarte adequado) e a linha feita a partir dos airbags. “Depois que ele (airbag) estoura é descartado e não existe também reciclagem para esse material, altamente resistente e sem destinação correta”, especifica. Além dessas duas empresas, Juliano adquiriu ainda uma marca cearense de óculos de madeira. E claro, deu uma pegada ainda mais sustentável ao negócio, que rebatizou de Cactus: os óculos são feitos a partir do reaproveitamento do shape do skate ou de madeira de demolição.

Outro empreendedor que já nasceu nessa pegada, foi Maurício Somlo, da Elemovi, empresa especializada na fabricação de veículos elétricos para deslocamentos diários, no campo, na cidade ou na indústria. Bikes, scooters e triciclos que não poluem. “A Elemovi começou totalmente sem querer. Quando eu ainda trabalhava em outro ramo, um cliente solicitou que desenvolvesse para ele um triciclo movido a ar comprimido, fiz um protótipo, porém, não ficou prático para recarregar no dia-a-dia, então comecei a pesquisar por novas opções de veículos até achar os triciclos elétricos”.

E então Maurício percebeu uma tendência de mercado que emergia. “A Elemovi desde sua essência trabalha apenas com veículos elétricos, pois são os únicos veículos sustentáveis com maior facilidade de produção, distribuição e assistência técnica em todo território nacional em relação a outros veículos”, enfatiza.

As empresas de Juliano e a do Maurício já nasceram com a ideia sustentável, mas hoje um número cada vez maior de empresas estão colocando entre suas pautas não só a questão ambiental, mas também a social e a governança. Ser reconhecido por cuidar do meio ambiente, promover impacto social positivo e adotar uma conduta corporativa ética. Esse tem se tornado o padrão ouro do mundo dos negócios. Na mais nova etapa do capitalismo consciente, a obsessão das empresas pode ser resumida em apenas três letras: ESG.

A sigla, em inglês, significa Environmental, Social and corporate Governance, algo como melhores práticas ambientais, sociais e de governança, em português. “A ideia disso é justamente você ter um capitalismo mais inclusivo, ou seja, você se preocupar com outras coisas além do lucro. Por que quando você se preocupa com o meio-ambiente, você está preocupado com a poluição, com o ruído, com o bem estar das pessoas. Quando se preocupa com a questão social, você está preocupado, por exemplo, com a questão do assédio moral, sexual, do racismo, das pessoas terem uma qualidade de vida adequada. E a governança é que você está preocupado para que os processos sejam corretos, que não haja corrupção, que as questões éticas sejam cumpridas”, explica o professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), e conteudista do curso GRATUITO “Transformação Digital para micro e pequenas empresas”, José de Paula Barros Neto.

Grandes negócios já estão com os olhos lá na frente, principalmente por que o novo perfil de consumidor também está mais atento e preocupado com esses princípios. “Essa questão, do consumidor como uma das forças que influenciam a empresa, está sendo mostrada por meio de pesquisas de grandes agências que sim, eles estão preocupados com essa questão da sustentabilidade. Uma dessas pesquisas mostrou que 88% dos brasileiros declararam que tem valores de sustentabilidade e que 87% ficam mais confortáveis com supermercados que inspiram a minimizar o desperdício de alimentos, que é um dos tópicos ligados a sustentabilidade”, exemplifica Marcos Nakagawa, professor da ESPM, coordenador do centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental.

Mas não são só as grandes empresas que precisam pensar sob essa perspectiva, micro e pequenos negócios podem, e devem, nascer e crescer com essa ideia. Hoje é um diferencial para as empresas, independente do porte. Mas como se adequar? Por onde os pequenos negócios podem começar? O professor Barros Neto defende que é preciso olhar com uma visão estratégica, ou seja, de investimento: “O primeiro passo é analisar o nicho de mercado que você está envolvido, qual é o seu público-alvo, quais são seus objetivos estratégicos, por que isso vai direcionar suas escolhas, com relação ao meio-ambiente, com relação a responsabilidade social e de governança. Visão estratégica é fundamental”, defende. A partir dessas definições será possível fazer um plano de ação para o seu negócio.

Nakagawa defende também que não é difícil para os pequenos implantarem o ESG nos seus negócios, pois são conceitos que norteiam, ou deveriam, nortear a vida da sociedade: “O mesmo valor que você tem pessoal, é o valor que você, provavelmente, vai levar pra empresa. Por que você como pequeno, médio, micro, vai acabar vivenciando aquilo até muitas vezes mais do que na sua casa. E aí você vai ter que transpassar pro seus funcionários, pro seus clientes, e esses valores tem que está de acordo com o que o consumidor também busca, o famoso tinder da compra, o metch entre quem gosta do seu valor e entre o que você está mostrando ser o seu valor. E isso tem tudo a ver com ESG, com governança, com a governabilidade”. 

Quer se aprofundar e aprender de vez como dominar essa e outras tecnologias para aplicar no seu negócio? Não perca a oportunidade e inscreva-se agora no curso GRATUITO “Transformação Digital para micro e pequenas empresas”. Em formato de ensino à distância (EAD), o curso, idealizado pela Fundação Demócrito Rocha, com o apoio da Universidade Federal do Ceará, tem como objetivo promover o debate, a qualificação e o aperfeiçoamento de profissionais, empreendedores e pequenas empresas que querem desenvolver novos negócios ou incorporar as soluções digitais nas estratégia do seu negócio.

Para acompanhar tudo sobre o universo do empreendedorismo acesseMOVIMENTO EMPREENDER e tenha acesso a um universo de possibilidades.

Notícias Relacionadas