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ESG: Pequenos, mas sustentáveis

Como obter uma relação saudável e sustentável com recursos naturais e sociedade dentro da realidade dos micro e pequenos negócios

06.09.22 - 09H03 Por camillalima
Diversidade, consumo consciente de energias, descarte correto de resíduos são algumas dessas ações/ Foto: Alena Shekhovtcova

Giovanna Mondardo, 30, nasceu e cresceu na maior floresta tropical do mundo – a Amazônia. 
O quintal de casa, emoldurado por frondosos cacaueiros, fazia parte da paisagem que lhe era bastante comum aos olhos. Talvez por isso, demorou tanto tempo para que ela enxergasse no fruto, nativo de sua região, uma possibilidade de negócio.

Foi numa viagem para visitar a família, em Manaus, que a arquiteta viu novamente o cacau cruzar seu caminho. Já descontente com o mercado de trabalho formal, ela viu ali, durante visita a uma fábrica de chocolates, uma possibilidade de empreender. E nada mais natural para ela – que cresceu na maior biodiversidade biológica do planeta – , do que apostar num negócio que já nascesse com uma pegada sustentável: “Estamos vivendo em uma época onde o desmatamento nessas áreas é crescente, onde os nossos rios, terras e alimentos estão completamente contaminados com mercúrio do garimpo ilegal e onde nossos índios estão sendo assassinados. Todas essas questões me fazem sentir na pele o sofrimento, a dor e o choro da região onde nasci. Por isso o meu interesse em aprender mais sobre a biodiversidade e em como conservá-la”.

Foi assim que, em 2020, ela fundou a Moa, a primeira fábrica cearense a trabalhar com o conceito Bean to Bar (do grão à barra). A jovem empreendedora explica, que o conceito Bean to Bar tem foco no cacau, na transparência e na sustentabilidade. “Nossa preocupação com a sustentabilidade ambiental acontece tanto na fazenda de cacau quanto na fábrica. Há preocupação também com a sustentabilidade social, principalmente com a valorização da cadeia produtiva. Se paga mais caro por esse cacau especial e o preço da venda é determinado pelo próprio produtor – ao invés de estipulado pelo mercado de commodities”, salienta.

A pequena fábrica – que perfuma todo o quarteirão no bairro aldeota – , conta com uma série de ações que tem como objetivo diminuir os impactos ambientais, por lá os resíduos sólidos são mínimos: “as cascas de cacau são doadas para uma fazenda, que as utiliza como adubo no cultivo de árvore frutíferas. Nossas barrinhas de chocolate são seladas em uma embalagem 100% compostável, feita de celulose, e que se decompõe em 180 dias”, enumera Giovanna. Além disso, o cacau especial é cultivado no sistema agroflorestal, “assim ajudamos a preservar, recuperar e restaurar a floresta”, afirma.

A empresa da Giovanna é a prova de que pequenos negócios podem e devem pensar dentro das estratégias que norteiam os princípios da ESG. Uma das siglas mais famosas do Brasil e do mundo, o ESG se refere a questões ambientais, sociais e de governança corporativa. O acrônimo vem do inglês Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G), e ganhou grande relevância nos últimos anos. Só para se ter uma ideia, de acordo com o Google Trends, as buscas pelo termo no Brasil cresceram 150% em 2021, se comparado aos 12 meses anteriores – nunca os brasileiros buscaram tanto pelo assunto. O que mostra a importância da estratégia para os negócios – independente do porte ou segmento. Este, inclusive, foi o tema da live do Movimento Empreender desta semana. Aqui você confere a live completa.

Como explica Igor Leo Rocha, CEO da startup de impacto social AfroSaúde, “todo negócio já possui a função social que é gerar empregos, contribuir para o desenvolvimento econômico, social e cultural do seu entorno, físico ou digital”. Portanto, o ESG já deve estar na criação das empresas, que é impactar a sociedade positivamente. (Foto: Igor/esq e Arthur/dir)

E ele dá exemplos de como absorver a prática dentro da realidade das MPEs: “Para as micro e pequenas empresas, estudar e compreender o entorno de onde está instalada (para os negócios físicos) já é uma boa forma de começar. Ações como empregar pessoas das comunidades próximas, reduzir o impacto ambiental com práticas sustentáveis – como descarte correto de resíduos, fomento à reciclagem e geração de renda para cooperativas próximas – e criar políticas de diversidade e inclusão são opções que não perpassam, necessariamente, por altos investimentos financeiros, já que este é um ponto em comum dos pequenos negócios, que é a falta de recursos”, enfatiza.

Arthur Lima, também CEO AfroSaúde, enumera outras possibilidades: “Em relação ao meio ambiente, [podemos citar] a própria adoção de outros regimes de trabalho como o híbrido e home office, por exemplo, contribui muito para tornar o ambiente de trabalho mais sustentável. O fluxo de pessoas é menor e automaticamente a geração de resíduos sólidos e consumo de energia também reduzem. Eu vejo o pilar social da sigla como aquele direcionado a pessoas que fazem parte da empresa: saúde mental, diversidade, relações humanas etc. E a governança, em um período que falamos tanto sobre segurança, ética e privacidade de dados, aplicar isso na rotina de trabalho é crucial. Principalmente para as empresas que trabalham diretamente com tecnologia”, afirma.

Cleane Ramos, especialista em Governança e professora do Instituto da Federação das Indústrias (IEL), explica que a importância dessas práticas tem a ver com 3 objetivos principais. São eles:
1 – Acesso a investimentos e investidores: “hoje, os grandes fundos de investimentos já adotam critérios pautados nas práticas de sustentabilidade ambiental e social para avaliar e escolher os empreendimentos que irão destinar os seus recursos”.
2 – Fortalecimento da marca, produto ou serviço: “empreendimentos que adotam essas práticas fortalecem os seus modelos de negócio perante o mercado e clientes”. 
3 – Modelo de negócio para um mundo mais sustentável e contínuo: “não se pode mais pensar em consumir recursos, sem avaliar os impactos do seu negócio no meio ambiente. Cada vez mais os recursos naturais estão escassos, cada vez mais nossas ações impactam no meio ambiente, no aquecimento global. Então, realmente esse é um movimento mundial e que qualquer empresa, de qualquer segmento e porte tem que pensar em tudo isso na hora de alavancar o seu negócio ou de iniciar um novo empreendimento”.

Para além dos impactos positivos – ambientalmente e socialmente falando, a Giovana aponta ainda os benefícios que as práticas ESG trazem para os negócios: “Sabemos que o impacto da preocupação ambiental na reputação de uma marca está cada dia maior. Os consumidores preferem adquirir produtos de empresas sustentáveis e não se importam em pagar um pouco a mais por isso. Hoje a responsabilidade social é um diferencial competitivo para as marcas, mas a tendência é que ele deixe de ser um diferencial e se torne um critério de rejeição para empresas que não se preocupam com o futuro do mundo”, finaliza.

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