Troféu Empreender 2024 | De “casinha conjugada” a um Instituto que transforma
Conheça a trajetória da empreendedora social que fundou o IAPS e hoje impacta a vida de milhares de pessoas em Fortaleza
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“Tudo o que eu faço, tudo o que tem na minha vida, tem alguma coisa a ver com o IAPS. Eu tô sempre aqui. E ela me passa muita força, coragem, perspectiva de vida”. “Vê-la trabalhando é prazeroso, estimula a gente a querer fazer mais e sempre melhor”. “Ela transborda tudo isso e faz com que a gente acolha todas as pessoas com muito amor e muito carinho”. “Ela luta bastante pelo aquilo que ela acredita. O IAPS é o resultado disso”.
Todos os depoimentos citados acima, de pessoas impactadas pelo trabalho social desenvolvido na comunidade do Tancredo Neves, versam sobre uma mesma pessoa: Simone Fernandes, presidente do Instituto de Assistência e Proteção Social (IAPS), agraciada pelo Troféu Empreender 2024, na categoria Empreendedor Social.
“A Simone se descobriu aqui nessa comunidade como funcionária pública prestando serviço no Centro Comunitário aqui do Tancredo Neves”. Foi assim que começou a jornada da empreendedora social Simone Fernandes, que há 24 anos fundou o IAPS, uma instituição sem fins lucrativos criada para promover a melhoria da qualidade de vida de pessoas em vulnerabilidade social. Mas o trabalho desenvolvido dentro das quatro paredes do centro comunitário, no qual trabalhava como assistente social, ficou pequeno diante da vontade dela de fazer mais.
“Eu desconhecia esse universo, essa linha de pobreza, e comecei a me envolver de forma muito forte com essa comunidade e eu vi que, como funcionária pública, eu tinha limites e eu vi que eu não podia me limitar diante do que as pessoas procuravam, diante do que as pessoas pediam, choravam, necessitavam”, compartilha.
Ao longo da carreira, Simone alimentou um sonho: o de construir um local onde pudesse desenvolver atividades com o intuito de melhorar vidas. Até que chegou o dia em que ela decidiu tirar sua ideia do papel. Abraçou a força e a coragem, desligou-se do Estado e alugou um pequeno espaço próximo do centro comunitário, onde começou seu trabalho social de forma mais efetiva.
“Muita gente me chamou de louca, por deixar um emprego público, uma garantia de vida, pra correr atrás dum sonho sem ter muito com o que contar. Comecei o IAPS numa casinha conjugada e fui tida como doida até pelas pessoas da comunidade que diziam – minha filha, você deixou o centro comunitário pra vir pra uma coisinha dessa, uma casinha conjugada?”, relembra Simone, com o sorriso no rosto de quem (quase) sempre teve certeza das escolhas que fez ao longo do caminho.
O cantinho foi alugado com o apoio de amigos, fazendo bingos e rifas pra conseguir pagar o aluguel. “O início foi muito difícil, contei com pequenos grupos de pessoas voluntárias, que até hoje estão aqui comigo como funcionárias, que acreditaram, que sonharam comigo. Juntos, desenvolvíamos coisas muito pequenas, limitadas mesmo por conta do espaço. Um dia eu pedia ao comando da polícia uma sala pra fazer uma atividade física, no outro pedia à igreja outra sala, pra fazer reuniões com as mães, uma atividade educativa, porque dentro do IAPS não cabia”, relembra.
A primeira escola de informática da comunidade foi promovida pela instituição com computadores doados pelo irmão da Simone, sempre presente na construção do sonho de sua irmã. Além da escola de informática, das atividades promovidas aqui e ali, o IAPS passou a distribuir também lanches e sopas. “Isso foi me fortalecendo e me fazendo acreditar que era aquilo”, conta.
Mas o destino para o social, realizado de forma grandiosa, parece que já estava traçado. “Foi quando apareceu, aqui na comunidade, dois empresários que estavam buscando desenvolver alguma coisa que pudesse ser permanente em termos de ajuda, algo pra investir no social, alguma instituição”. Automaticamente, referendaram Simone. “Eles foram ao meu encontro e eu vi que era ali que eu tinha que me agarrar.”
O grupo procurava um espaço onde pudesse sediar uma ideia de instituto, e Simone já tinha um terreno em mente. O lugar estava destruído, mas ela via muito potencial ali. Simone invadiu, literalmente, o espaço sem uso, reuniu um grupo de pessoas para “guardar o lugar” e, em menos de uma semana, deram início às obras.
A agilidade na construção trouxe desconfiança para a comunidade, mas Simone acreditava que algo bom estava nascendo ali: “eu me desafiei e abri meu coração pra eles. Todo dia eu vinha pra cá. Negociei com eles para que a mão de obra fosse daqui, 70% foi aproveitada do pessoal aqui da comunidade do Gato Morto”, relembra. Em poucos meses, o novo equipamento foi entregue e deu-se início ao projeto.
Simone trabalhava diretamente com as esposas dos empresários investidores, que tinham também o desejo de atuar no social. Quatro anos se passaram. O trabalho não ia na direção que Simone gostaria, e ela se afastou da instituição.
A ideia de trabalho do grupo não avançou e o equipamento ficou esvaziado. “Todos (os atendidos) voltaram para a minha casinha conjugada”, rememora Simone. Quando perceberam que o trabalho não vingara sem Simone, chamaram-na de volta: “me abraçaram apertando, me entregaram a chave daqui e disseram – pegue que isso aqui é seu, estava escrito nas estrelas. E eu chorei”, relembra.
Mas era preciso reerguer o espaço novamente. Então, a empreendedora reuniu mais uma vez amigos para colocar a mão na massa e reiniciaram a construção do novo espaço, agora sob a tutela total da futura presidente da instituição, que seguiria os 24 anos seguintes desenvolvendo um bonito trabalho de assistência e ressignificando vidas.
“Hoje as pessoas me dizem: mulher, tu tá transformando o IAPS em labirinto. Onde nós estamos hoje era uma sala, eu fiz três. Cada demanda que aparece, que eu vejo que vai contemplar a comunidade, eu agrego, eu faço as puxadinhas.” Simone, orgulhosa de sua trajetória e do projeto que construiu, complementa: “Tudo isso aqui me deixa muito feliz.”
A longa jornada não mitigou os desafios, pelo contrário. Atender 450 pessoas por dia em atividades variadas não é uma tarefa fácil. São crianças, jovens e adultos que têm no espaço a garantia de direitos que, de outro modo, não acessariam. Hoje o IAPS trabalha em diversas frentes: música – incluindo a primeira escola de viola e violino do norte e nordeste – , teatro, dança, cozinha social, laboratório de informática e capacitações.
“Existe uma lei aqui dentro do IAPS. Essa lei é de acolher sempre. Somos o único equipamento social que existe aqui no entorno. Nós estamos num grande centro, num núcleo favelado. Aqui do lado temos a antiga favela do Gato Morto, a Lagoa da Zeza, Areal, Vila Cazumba. Então aqui demanda de tudo, e tudo o que eu puder agregar e fazer eu tento, eu busco, peço ajudas”, compartilha Simone.
Apesar dos desafios, Simone se diz feliz com o trabalho que vem sendo feito ao longo dos anos. “Eu tenho muita alegria aqui dentro por conta de transformações e promoções de vida. Hoje, eu não tenho mais meninas que se mutilam, não tenho mais meninas que tentam o suicídio, não tenho mais senhores e senhoras que choram com fome. São meninos que hoje pegam um violino e fazem consagrações, e o violino só falta falar nas mãos de um menino desse. Então, com essas realizações, eu posso dizer: eu sou muito feliz”, finaliza.
IAPS em números
Projeto Segurança Alimentar para População de Rua: distribuição diária de 1.000 almoços e 400 sopas para moradores de rua de Fortaleza.
Projeto Amor Quentinho: distribuição de 120 almoços para famílias em situação de vulnerabilidade social residentes em torno da comunidade do Tancredo Neves.
Programa de Esporte e Qualidade de Vida: + 200 mulheres beneficiadas pelo projeto Vida Ativa e + de 80 crianças e jovens beneficiados pelo projeto de Karatê.
Assistência Social: + de 100 pessoas beneficiadas por ano.
Projeto Escola de Música: + de 340 crianças e adolescentes beneficiados por ano, dentre muitas outras ações.
Impacto Social Anual: mais de 500 mil atendimentos a crianças, adolescentes e jovens. Mais de 2.400 atendimentos a adultos e idosos. Mais de 1.300 famílias em vulnerabilidade social apoiadas. Mais de 20 projetos realizados por ano.
Sobre o Troféu Empreender 2024
O Troféu Empreender é uma iniciativa do Grupo de Comunicação O POVO que destaca micro e pequenas empresas e empreendedores individuais nas categorias Pequena Empresa, Microempresa e Microempreendedores Individuais (MEIs).
Na edição 2024, a premiação contemplou também startups que fizeram a diferença na categoria Tecnologia, além de homenagear o Empreendedor do Ano e o Empreendedor Social.
As indicações são feitas por instituições convidadas e comprometidas com o desenvolvimento dos pequenos negócios. São elas: Banco do Nordeste do Brasil, Instituto Centec, Instituto Euvaldo Lodi, Federação das Micro e Pequenas Empresas do Ceará, Iracema Digital, Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Fortaleza e Sebrae.
IAPS
Instagram: @iaps.comunidade