Do pioneirismo à consolidação: a trajetória do aiqfome no mercado de delivery
O aplicativo, que nasceu em 2007, mirou no interior do país e hoje está presente em 700 cidades
Em muitos lares país à fora, é quase lei: o jantar aos domingos tem que ser pizza. Daí você, muito bem deitado no sofá, pensa: vou ligar para o disk pizza e pedir aquela calabresa. Isso se você estivesse por volta dos anos 2000. Hoje, a um clique rápido, o pedido é feito por meio de aplicativos de comida – claro, rápido se você não for uma daquelas pessoas extremamente indecisas, que passa quase 1h inteira para se decidir.
O maior e mais conhecido app de comida chegou ao Brasil em 2011. Mas engana-se quem pensa que a ideia surgiu com a gigante. Antes da febre se consolidar com a plataforma, a ideia já brotara na cabeça de um casal de empreendedores brasileiros: Steph Gomides e Igor Remigio. Fundado em 2007, no interior do Paraná, o aiqfome surgiu da necessidade de simplificar o pedido de comida, transformando uma ideia visionária em um negócio bilionário.
Na época, não havia outra forma de pedir comida além do telefone, e as dificuldades enfrentadas pelo casal nas tentativas frustradas de encomendar um lanche foram o ponto de partida para a criação da plataforma. “Essa sequência de episódios com pedidos de delivery aconteceu em 2001. Eu me lembro que isso despertou uma inquietação dentro de mim: deveria existir uma maneira mais fácil de pedir comida sem ser pelo telefone ou navegando de site em site para checar o cardápio dos restaurantes”, relembra Steph.
No início, a empresa foi tocada com recursos próprios, sem nenhum investidor externo: “desenvolvemos o negócio do zero a quatro mãos e fomos reinvestindo todo o lucro adquirido”, explica a empreendedora. Na época, o casal ganhava cerca de R$ 600,00 com serviços de freelancer como web designer.
Os desafios do pioneirismo e da tecnologia (ou da falta dela)
No Brasil de 2008, a internet discada ainda era predominante, e muitos restaurantes não estavam preparados para o modelo digital de negócios. Foi então que Igor Remigio, CEO e cofundador do aiqfome, assumiu o desafio de convencer os comerciantes a aderirem à plataforma: “eles eram descrentes com a internet e achavam que era algo passageiro”, relembra. A chegada da banda larga e da disseminação da internet mudou tudo, mas não sem contar com a expertise do casal para adaptar o processo, ainda rudimentar. “Na época, não tínhamos dinheiro para investir em tecnologia, então repassávamos os pedidos na gambiarra. Quando a entrega caia na plataforma, o restaurante recebia por e-mail e organizava as saídas em diferentes abas no navegador”, revela.
A virada de chave ocorreu em 2012, quando o Steph e Igor resolveram adotar o modelo de microfranquias, permitindo que empreendedores locais expandissem o aplicativo em suas regiões. “Atuar no interior do Brasil tem suas particularidades. Além de ser uma comunidade mais familiar, a regionalidade cultural é muito forte. Entendemos que ninguém poderia ter mais força para fazer o app tracionar em pequenas cidades do que um empreendedor local”, explica Remigio. E deu certo.
O modelo escalável e a inovação constante impulsionaram a empresa. Em 2014, o aiqfome ganhou sua versão mobile e, em 2015, já registrava 75 mil pedidos. A expansão continuou acelerada e, em 2019, o aplicativo já operava em 320 cidades, com R$ 5 milhões em pedidos. Ao longo do tempo, o aiqfome recebeu três ofertas de compras de seu maior concorrente, que foram recusadas por acreditarem em um modelo mais sustentável de negócio: “nós temos uma política de ganha-ganha onde só lucramos quando os lojistas e entregadores também lucram”, enfatiza Igor. A plataforma chegou ao Ceará em 2017 e já está presente em diversos municípios como Acaraú, Crateús, Ipu, Itapipoca, Limoeiro do Norte, São Benedito, Sobral, Tianguá, Ubajara e Varjota.
Expansão
A pandemia de 2020 impulsionou ainda mais o mercado de delivery, e o aiqfome chamou a atenção do Grupo Magalu, que adquiriu a plataforma para atuar como sua vertical food. A entrada no ecossistema da varejista permitiu a expansão para além de refeições, incluindo farmácias, mercados e pet shops. No final de 2020, o app faturou R$ 600 milhões e, em 2024, atingiu a impressionante marca de R$ 2 bilhões.
Hoje, presente em 700 cidades e com um crescimento constante, a meta do aiqfome para 2025 é alcançar 1000 municípios, consolidando-se como líder no interior do Brasil e avançando para as capitais. “A meta é chegar a mil cidades em dois anos, e eventualmente partir para as capitais”, projeta Igor.