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Doce que nem mel

cooperativismo é força motriz em agroindústria de mel cearense

27.12.22 - 09H53 Por camillalima
Ceará exportou 9,7 milhões em mel de abelha em 2021, segundo a Fiec/ Foto: Pixabay

Seu Francisco Lucilano da Silva, 59, começou a trabalhar com apicultura em 2001. Foi quando se juntou a um grupo de outros apicultores para tentar, juntos, viabilizar a venda do mel. Mas por falta de mercado, do produto artesanal ainda não ter uma boa comercialização, precisaram parar as atividades: “Não íamos ficar com baldes de mel intocados, por isso decidimos parar. Foi tanto que desandou, deu um certo tipo de desânimo”, conta seu Lucilano, que mora no Assentamento Riacho do Meio, em Senador Pompeu.

Mas seu Lucilano não estava só nesta empreitada. Na região do Sertão Central cearense, diversas outras famílias apicultoras trabalham com a produção e venda de mel há anos. Só que os desafios eram muitos: cultivar, produzir, colher e estocar – dentro de suas próprias residências. Para depois chegar o atravessador e comprar o produto a um preço estabelecido por ele mesmo, geralmente um preço abaixo do mercado.

Foi assim que esses apicultores entenderam que unindo forças poderiam ampliar suas possibilidades. E, ao invés de vender seu produto para esses atravessadores, eles poderiam ser independentes. Entra em campo a força do cooperativismo. Em conversas com o Governo do Estado, para pensar estratégias de como melhorar as condições dessas famílias por meio de sua principal atividade, surge, em 2019, a Cooperativa Regional dos Trabalhadores Apícolas Assentados e Assentadas da Reforma Agrária (COOPERAMEL), subsidiada pelo projeto São José III.

Dentre as principais vantagens estão o trabalho coletivo e organizado para o beneficiamento e comercialização dos produtos, dando um outro caráter ao destino da produção. “ Foi quando eles começaram a entender a importância do cooperativismo dentro da agricultura familiar, de que a produção deles seria matéria-prima para uma unidade de beneficiamento. Ela seria beneficiada com todas as normativas de lei, de um parâmetro de médio porte com alto padrão de qualidade, entraríamos no mercado e os lucros dessa cooperativa voltaria para eles. Então seria um empreendimento deles e pra eles, por organização do coletivo e não individual”, explica Rafaella Santos, gerente da Agroindústria do mel.

As cooperativas rurais funcionam como um modelo de organização que vem ganhando cada vez mais espaço junto as mais diversas cadeias produtivas. É o que explica a Secretária do Desenvolvimento Agrário, Ana Teresa Barbosa: “Na prática, são agrupamentos de pequenos produtores que visam o fornecimento e a comercialização, buscando uma facilidade ao acesso de benefícios e incentivos do Estado, que dificilmente conseguiriam sozinhos. É importante destacar também que, dentro do universo rural, o cooperativismo acaba funcionando como um intercâmbio de experiências para esses produtores, que muitas vezes não tem sequer acesso à internet e outras formas de busca do conhecimento que é necessário para melhoramento da eficiência do processo de produção e da própria qualidade do produto”, enfatiza

Mercado em crescimento
De acordo com o Centro Internacional de Negócios da Fiec, só em 2021 o Ceará exportou 9,7 milhões em mel de abelha. Um dos principais polos produtores de mel do país, o Estado hoje acompanha o crescimento não só na produção, mas também no número de apicultores na região.

Edimilson da Cruz, consultor de mercado do Projeto São José explica que a maior demanda de trabalhadores na área deve-se a valorização do insumo, e consequentemente elevação no preço do mel: “Isso fez com que os agricultores ganhassem mais dinheiro na venda do mel, então houve uma corrida para a produção de mel, e continua aumentando o número de apicultores. Só em Crateús, esse ano, aumentou mais de 300 produtores de mel”, revela. Edimilson explica ainda que com a valorização do produto e o aumento nas vendas em 2021, a produção de mel passou a ser a principal fonte de renda de muitos agricultores, que antes tinham na produção apenas um complemento de renda.

Hoje, a COOPERAMEL trabalha diversos tipos de produtos: mel convencional em garrafa, bisnaga e sachê, além do mel orgânico no formato bisnaga e em pote. A agroindústria conta com 50 apicultores cooperados e recebeu em 2022, primeiro ano de funcionamento, 25 toneladas de mel Terra Conquistada, marca dos produtos da Reforma Agrária no Ceará.

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